Quinta-feira, Março 28, 2024
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“Já nem eu acredito em mim”: Entrevista com o Pai Natal

santaclausImprensa Falsa: Desde já muito obrigado por aceitar dar uma entrevista nesta altura de tanta azáfama.

Pai Natal: Não há problema, porque eu ando nesta azáfama o ano inteiro.

IF: O Pai Natal trabalha o ano todo? Não é só em Dezembro?

PN: Pai Natal é só em Dezembro, mas no resto do ano sou carteiro, porque não fazia sentido uma pessoa que conhece tantas moradas não explorar essas competências.

IF: E consegue conciliar as duas coisas?

PN: Sim, embora já tenha falhado. Já cheguei a meter a correspondência das pessoas pela chaminé. E em parte o meu eu-carteiro também tem contribuído para a descrença em mim. Numa ocasião umas crianças apanharam-me na sala na manhã do dia 25 e vai assim o papá delas “olhem, olhem meninos, é o Pai Natal”, e dizem os fedelhos “oh, é o carteiro”. Ainda por cima eu tinha um aviso de recepção para o paizinho assinar, de maneiras que está a ver.

IF: Sente portanto que as pessoas acreditam cada vez menos em si.

PN: Nem é esse o maior problema. Pior do que as pessoas acreditarem cada vez menos em mim é eu próprio acreditar cada vez menos em mim e quando não acreditamos em nós próprios, é muito difícil.

IF: Acha que em parte as pessoas não acreditam em si por se dizer que é um mero produto de marketing de uma fábrica de gasosas.

PN: Penso que sim e ainda estou para descobrir quem é que inventou isso, porque não leva mais presentes. É que eu nem bebo aquela coisa por causa dos gases. Eu só gosto de um favaíto de vez em quando.

IF: E o que o leva a acreditar cada vez menos em si?

PN: Com 84 anos já não tenho idade para acreditar no Pai Natal.

IF: Também poderá ser cansaço?

PN: Também, sim. Repare que as pessoas só têm de pensar a sério no Natal durante quinze dias e mesmo assim queixam-se, agora imagine eu que penso no Natal o ano inteiro porque para as coisas correrem bem há muito trabalho que ninguém vê. E depois aquelas músicas…

IF: E como é viver na Lapónia?

PN: Inóspito, mas pronto, como sei que vocês são de Portugal, não me vou queixar, porque sei que também não têm uma vida fácil.

IF: Mas lá faz mais frio.

PN: Já nem isso sei se é mesmo como está a dizer.

IF: De que forma a crise o tem afectado?

PN: De forma alguma. Os presentes compro todos em duty free porque ando sempre a voar e pessoal também tenho sempre porque a rena é um animal que gosta de trabalhar não é como certas pessoas, porque eu já tentei pôr pessoas a puxar o trenó mas ora estavam doentes ora chegavam tarde, às vezes já quase no ano novo, de maneiras que tive de voltar a chamar as renas.

IF: Tem muita popularidade, já pensou em meter-se na política?

PN: Já sim senhores, mas depois uma rena chamou-me à razão. É que eu gosto de dar, não gosto de tirar. Jamais posso ir para a política. Já viu o que seria? Em vez de ir de 24 para 25 levar os presentes, ia buscar. As criancinhas perguntavam pelos presentes e os pais tinham de lhes explicar “então meninos, o Pai Natal levou tudo”.

IF: Resta-nos agradecer mais uma vez e desejar-lhe Bom Natal, Pai Natal.

PN: Obrigados, isto está quase, já só falta meio mundo. Até logo e já sabem: Portem-se bem. Vamos meninas, ztás, isso, vamos, ztás, lindas, ztás, ho ho ho, ztás.

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